A voz profética – uma geração que marca

I Co 14.31
A voz profética – uma geração que marca “Porque todos podereis profetizar, um após o outro, para todos aprenderem e serem consolados” (I Co 14.31). Nem todo o que profetiza é profeta e tem o dom de profeta; o profeta possui um dom específico para realizar uma tarefa dada por Deus. Mas aqui abordaremos a orientação bíblica que apresenta a todas as pessoas a possibilidade de andar profeticamente. É importante ressaltar que Paulo não está imediatamente denominando todos os membros como profetas, mas a orientação de Paulo não exclui qualquer pessoa da igreja; ele não diz que apenas os “profetas” podem profetizar. Além disso, a Bíblia também encoraja todas as pessoas a procurarem com zelo os dons espirituais, “(...) mas principalmente que profetizem” (I Co 14.1). Essa intensidade na exortação existe porque Paulo sabe que os dons não são um incremento opcional para a igreja; são, sim, habilidades espirituais dadas por Deus para que o seu Reino possa manifestar-se. Paulo não se refere à uma busca relaxada ou esporádica; ele diz que a busca deve ser intensa e constante, feita com zelo e ardor.

Contudo, muitas pessoas imaginam que profecia é tão somente predizer um acontecimento futuro. De fato, isso também pode fazer parte da profecia, mas não é tudo. Em I Co 14.3, lemos: “Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando” – ou seja, fortalecendo, encorajando e confortando. Com palavras bem simples, profetizar é “ouvir” o que Deus está falando e dizer o que se ouviu, tendo o objetivo de fortalecer, encorajar ou confortar alguém.

A Bíblia nos apresenta alguns dons espirituais que estão incluídos na profecia. Esse texto diz: “Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra de sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra de conhecimento; a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las” (I Co 12.8-10). Os dons incluídos na profecia são a palavra de sabedoria, a palavra de conhecimento, o discernimento de espíritos e o próprio dom da profecia.

Uma palavra de conhecimento é um fato específico sobre uma pessoa, um lugar ou um acontecimento que não foi obtido por meios naturais: o nome de alguém, sua ocupação, seu lugar de nascimento, seu dia de aniversário, detalhes da sua vida passada ou qualquer outra informação. Um exemplo das Escrituras é encontrado em João 4.16-19: “Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e vem cá. Ao que lhe respondeu a mulher: Não tenho marido. Replicou-lhe Jesus: Bem disseste, não tenho marido; porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isso disseste com verdade. Senhor – disse-lhe a mulher – vejo que tu és profeta”. Jesus, que nunca tinha se encontrado antes com aquela mulher, recebeu uma palavra de conhecimento sobre a vida dela e ela reconhece que a graça de Deus estava sobre Jesus, dizendo: “Senhor, vejo que tu és profeta”. Paulo destacou que esse reconhecimento é muito importante: “Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido e por todos julgado; tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está, de fato, no meio de vós” (I Co 14.24,25) Esse é o poder que potencialmente se acha numa palavra de conhecimento.

A palavra de sabedoria é uma revelação divina da vontade, do plano ou do propósito de Deus para uma situação específica. Ela difere da palavra de conhecimento em vários aspectos. A palavra de sabedoria pode não causar o mesmo impacto que uma palavra de conhecimento, mas sua necessidade pode ser maior, já que ela é diretiva por natureza, por conter uma percepção profética quanto ao que fazer numa dada situação. Em Atos 27 encontramos um bom exemplo operado através de Paulo. Antes de prosseguir naquela viagem de navio, Deus lhe havia dado a impressão de que não deveriam fazê-lo, porque a viagem seria trabalhosa (v.10). Quando o navio ficou em perigo, Paulo recebeu a visita de um anjo que lhe prometeu a proteção de todos os que estavam a bordo (v.22). Na hora em que a tempestade começou a ameaçar suas vidas, os marinheiros tentaram arriar o bote salva-vidas, mas Paulo lhes disse que se fizessem isso eles não seriam salvos (vv.30,31). Eles foram convencidos disso e, por fim, todos foram salvos. Nessa palavra de sabedoria houve a revelação do plano de Deus para aqueles marinheiros, com a orientação sobre o que eles deveriam fazer.

No discernimento de espíritos, a palavra discernir significa “distinguir entre duas ou mais coisas”. A palavra “espírito” pode ter qualquer um dos seguintes significados nas Escrituras: anjo, demônio, espírito humano, Espírito Santo, unções ou pode referir-se à influência motivadora de uma pessoa. Muitos foram ensinados que o discernimento de espíritos é a condição de poder determinar se alguém tem um problema demoníaco. Este é apenas um aspecto deste dom; ele também identifica dons espirituais e chamados, ou funciona como uma palavra de conhecimento na cura, na identificação de atividades angelicais, na situação em que se encontra o coração de alguém ou ainda na determinação de qual é o específico propósito da atuação de Deus em uma reunião. Podemos ver um exemplo em Atos 16.17,18, quando Paulo se encontrou com uma jovem que aparentemente falava a verdade: “Seguindo a Paulo e a nós, clamava dizendo: Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação. Isto se repetia por muitos dias. Então Paulo, já indignado, voltando-se, disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, eu te mando: “Retira-te dela”. E ele na mesma hora saiu”. Embora o que ela dizia estivesse certo, Paulo discerniu que ela tinha um espírito de adivinhação (v.16); ela não falava pelo Espírito Santo, mas por um espírito demoníaco. E Paulo perturbou-se em seu espírito.

Contudo, como receber esses dons, distinguir a voz de Deus e perceber que ele está falando? De fato, Deus geralmente não nos fala com uma voz audível. Às vezes, aos nossos olhos Deus nos fala de um modo bastante estranho, mas a Bíblia nos relata diversas formas distintas.
Pelo contrário, Deus fala de um modo, sim, de dois modos, mas o homem não atenta para isso. Em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, quando adormecem na cama, então, lhes abre os ouvidos e lhes sela a sua instrução, para apartar o homem do seu desígnio e livrá-lo da soberba” (Jó 33.14-17).
Ouvi agora as minhas palavras: se entre vós há profeta, eu, o Senhor, em visão, a ele, me faço conhecer ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente, e não por enigmas” (Nm 12.6-8).
Deus tem um propósito para decidir falar assim às pessoas: No texto do livro de Jó lemos que Deus quer livrar-nos da soberba, afastando-nos da rotina mundana da nossa vida para buscá-lO e, assim, nos fazendo depender dEle.

Outra maneira das mais comuns por meio do qual Deus fala são as impressões proféticas. Quase todos os cristãos estão ouvindo Deus falar através de impressões, mas devido à ignorância geral que há na igreja sobre os dons de revelação, muitos as tomam como pensamentos vagos ou como coincidências. A maioria das pessoas tem tido a experiência de pensar de repente em alguém que não tem visto nem ouvido falar há vários anos e então, por acaso, encontra-se com essa pessoa naquele mesmo dia ou naquela semana. Outros, no decorrer do dia, têm um vago pensamento sobre alguma coisa que um amigo ou conhecido tem que fazer, e depois descobrem que o vago pensamento era na verdade uma percepção bem precisa. O que muitos pensam ser uma coincidência realmente são verdadeiras impressões proféticas dadas por Deus. A Bíblia contêm vários exemplos poderosos de revelações no nível de impressões. Em Atos 14.9, Paulo percebeu que um certo homem, que era paralítico desde o nascimento, tinha fé para ser curado. Quando Paulo agiu conforme a sua impressão o paralítico foi curado de forma impressionante. Contudo, mesmo sabendo que Deus fala desse modo, é necessário ter muita disciplina e sabedoria para discernir com precisão a voz de Deus. É óbvio que nem tudo o que alguém venha sentir provêm de Deus. Quanto mais estivermos voltados para nós mesmos ou feridos, mais os nossos sentimentos serão imprecisos e perigosos.

Há ainda outra maneira de Deus falar: através dos “sentidos proféticos”. Em II Reis 2, vemos um exemplo bíblico de discernimento operando através da visão espiritual. Quando Elias foi arrebatado ao céu, Eliseu recebeu dobrada porção do Espírito que estava sobre ele, e também recebeu o manto de Elias para ministrar. A passagem relata a reação dos filhos dos profetas: “Vendo-o, pois, os discípulos dos profetas que estavam defronte, em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu. Vieram-lhe ao encontro e se prostraram diante dele em terra” (II Rs 2.15). Aqueles jovens viram que o espírito de Elias agora estava sobre Eliseu, mas não através de mudanças físicas. Havia uma presença espiritual que antes estava sobre Elias e que agora eles viam com olhos espirituais sobre Eliseu.

Em todos os ministérios, exceto um, damos oportunidade para que as pessoas cresçam em seus dons e habilidade. Ninguém espera que os mestres nunca errem ou que se sintam plenamente à vontade quando começam a ensinar. Também não exigimos dos pastores que sejam perfeitos no início do seu ministério. Mas devido a certos pontos não bem entendidos acerca do ministério profético, grande parte da igreja espera, até mesmo dos iniciantes na profecia, que todos sejam perfeitos ao exercerem o seu dom. É necessário entender que, para crescer no ministério profético, a pessoa precisa encontrar espaço para exercer o seu dom. E também é necessário entender que os erros não são opcionais. Embora esse processo não seja o mais agradável, o modo pelo qual a maioria das pessoas aprende é pela tentativa e erro. Esta é a natureza da vida e do ministério: se não aceitarmos o fato de que temos que passar por um nível de imaturidade no ministério profético, provavelmente, nunca teremos um ministério profético maduro. Temos que engatinhar antes de andar. Além disso, temos que reconhecer que tudo na obra de Deus requer que andemos em fé. Profetizar, tal como qualquer outro ministério, é um passo de fé que requer que fiquemos totalmente livres de nossos sentimentos e temores.

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